
A arte da luthieria por gerações, foi tradicionalmente transmitida de mestre para aprendiz, em contato direto no mesmo local de trabalho, para que o aluno pudesse vivenciar as muitas etapas na fabricação de um instrumento.
Hoje esta arte está difundida através de vasta bibliografia, antes escassa, e a internet globalizou as experiências individuais, reunindo a metodologia de trabalho de luthiers de todo o mundo.
Meus primeiros passos na luthieria foram dados no curso de restauração que fiz com o luthier Vergílio Lima, por sua vez aluno do mestre Sugiyama, e ali tive o primeiro contato no trabalho fino com madeira, ferramentas, técnicas e vernizes.

Também no curso de luthieria em Demétrio Ribeiro/ES, ministrado pelo querido amigo luthier Luciano Borges, por duas vezes pude vivenciar as etapas da construção da viola caipira e violão clássico, e fazer tantas boas amizades com gente de todo o país que se interessa por esta arte.

Passado algum tempo, adquiri um violão de cordas de aço feito pelo amigo e luthier Rodrigo Moreira, e este belíssimo instrumento me trouxe especial interesse pela luthieria de violões de cordas de aço. Estava com o violão a poucos meses, então fui chamado a mostrá-lo a uma lenda viva da luthieria que esteve em Belo Horizonte.
Assim conheci o mestre Wayne Henderson, considerado um dos maiores luthiers do mundo, e por muitos, o mais talentoso dos Estados Unidos. Com sua grande habilidade manual, utiliza de um simples canivete pra fazer o que a maioria de nós luthiers fazemos com um formão! Estava em companhia de seu amigo inseparável, o luthier Don Wilson, e ambos elogiaram bastante o violão, mas Don deixou claro que se eu estivesse disposto a conhecer profundamente a essência do violão aço, teria que colocar as mãos e ouvidos em um autêntico violão Martin pré guerra, fabricado no final da década de 1930.

Não me contive. Meses depois estava voando para Rugby, Virginia, EUA, e no atelier de Wayne Henderson, tive a verdadeira honra não só de tocar estes violões fabulosos, que chegam a custar o preço de uma casa, mas também de construir um belíssimo modelo D-28 sob a supervisão de ambos, Wayne e Don, seguindo a mesma técnica aprendida dos artesãos que fizeram os violões Martin “pré guerra” se tornarem os melhores “cordas de aço” já feitos.

Após vários dias fazendo longos turnos de trabalho (que duravam até 15 horas por dia), trouxe de volta o violão construído, uma mala cheia de ferramentas e um livro intitulado: Clapton´s Guitar: Watching Wayne Henderson build the perfect instrument. O livro contava o dia a dia no atelier de Wayne na ocasião em que construiu o violão feito sob encomenda de Eric Clapton. Na contracapa, fui agraciado com a seguinte dedicatória:
“To Max. I have enjoyed working with you and getting to know you. You are a great luthier, hope you keep on. Very best wishes. Your friend, Wayne Henderson.”

Max Rosa, Wayne Henderson e Don Wilson
Alguns anos se passaram, e hoje, com mais experiência, tenho buscado colocar minha personalidade nos instrumentos. Agora trabalhando em um novo local totalmente dedicado ao ofício da luthieria, também estou em constante aperfeiçoamento no que diz respeito a ferramentas e máquinas adequadas para ter em mãos o que é necessário para construir instrumentos que superem as expectativas e atendam as necessidades particulares de cada músico.
Max Rosa

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